Decrepito ainda colou a rosa no furo certo do vaso. Olhou para ela como quem vê o mar pela primeira vez. Seguiu em passos lentos à poltrona da patroa e simulou uma associação ao gesto anterior. “Nossa, minha velha, quantas meninas assim, em botão, eu seria capaz de trocar por você”. Ouviu um resmungo indiferente, um cheiro algo flatulento e percebeu sem aflição que mais uma vez era ignorado. Sentou-se, ligou a televisão num programa de auditório, no qual havia nádegas que rebolavam. Trocou todo o seu mundo por aquela tela: viva e colorida. A mulher bem que percebeu seu interesse pelas imagens, uma motivação comum nos últimos quarenta anos de convívio. Achou melhor deixá-lo lá, com as ninfas oníricas, enquanto ligava para as comadres, com as quais poderia comentar, desopilante, as impertinências daquele “idiota”.
domingo, 27 de maio de 2012
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