sábado, 11 de fevereiro de 2012

Imensa exclamação

Imensa exclamação. Não viam Antonia assim apenas pelo seu pescoço mondigliano, biótipo varapau e certo desajeito, curvado e curioso, no andar. Parecia-se com um veemente devaneio, acrescido de um ou outro lapso, tropeço ou insegurança inata, e o quadro que compunha era, não raramente, atribuído ao de um estorvo. Pois foi Antonia, Tônia, Toniquete ou Totonhão quem impediu a morte do cachorro Rosado, coitado. Esquecido no sótão quando os donos fugiram às pressas dos agressivos credores, Rosado já nem gania, depois do quinto dia. Era um sutil murmúrio, que alguns ouviam, mas ninguém via. Exceto... sim, Antonia. Só precisou, curiosa, subir na mureta tosca que dava para a calçada. Seus quase dois metros lhe puseram olho a olho com o pobre bicho, desfalecido, do lado de dentro da janela. A fama de salvadora, o esquecimento às gozações que lhe faziam e o ar heroico, acompanharam Antonia, ora feliz... durante os dois dias seguintes.

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