Era uma dessas árvores tristes, para a qual ninguém olha. Naquela agitação de carros coloridos e gentes gordas, a pobre parecia disfarçar que existia no contraste, como um meio de guardar sua dor num lugar seguro. Com o tronco e galhos quase pretos e a folhagem cinza, testemunhava xingamentos, amores, agressões e pressas. Com os anos, veio a reforma paisagística da avenida. Frondosos ipês, formidáveis flamboyants, tremendas sete-copas, foram, logo, dizimados pelas máquinas, ávidas pela transformação. Por aquela criatura vegetal, passaram retroescavadeiras, roçadeiras, homens armados de enxadas e de foices. A nova avenida ficou reluzente, inflada de asfaltos, garbosa. Só a velha árvore ficou, que hoje se parece com uma feinha tirando o sarro na volúpia progressista dos bonitos.
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
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