Com uma grandeza que não cabia no corpo, o espalhafatoso Horácio mal meditou para afirmar que o céu já lhe era uma garantia... divina. Metafísico até os dentes, tatuou santos pelas costas, cruz no peito e um passaporte imaginário no corpo caloso do cérebro, assinado por Deus. “Nada acaba acontecendo como a gente imagina”, ainda vaticinou Dirce, a pessimista com que ele convivia por exclusão, impossibilitado de se mudar daquela pensão infecta, por questões financeiras. Pois o crédulo homem tropeçou sobre a tábua em gangorra, na ponta oposta da qual estava a lata de pregos. Ao voarem pelo impacto, os pequenos e pontiagudos pedaços de metal atingiram em cheio a turminha da escola que passava pela calçada: três crianças cegaram, uma morreu e quatro foram internadas com perfurações pelo corpo. Dirce, em êxtase, disse “eu disse”, cheia de convicção.
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
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