segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Silêncio de crocodilo

Silêncio de crocodilo. Olhar de águia. Braços de jibóia faminta e a frieza de um sociopata. Umbelino foi trabalhar como padeiro, não se sabe o porquê. O pai sempre sentiu um frêmito desejo de vê-lo na corporação policial. Tradição familiar. A mãe o queria padre, justamente para contrabalançar as histórias de violência que ouvia em casa. Com a regularidade de um metrô inglês, Umbelino deixava sua casa às quatro da madrugada, rumo à padaria não muito distante. Naquele domingo, porém, foi abordado por dois pivetes, que lhe exigiram o relógio e a carteira. Disse que não aos malresolvidos e titubeantes assaltantes, com a naturalidade de uma criança quando lhe pedem o brinquedo favorito. Ouviu irredutível às ameaças de morte. E já seguia seu caminho quando sentiu a bala transpassar-lhe o braço esquerdo. Raivoso, saltou sobre os dois e os segurou pelos pescoços, cada qual com um braço. Sentiu outras balas pelo corpo, e outras... Mas sua rigidez cadavérica foi responsável pela prisão de ambos, que não conseguiram fugir àquelas garras. Na expressão defunta, Umbelino demonstrava uma devoção sacerdotal. Agrado definitivo ao pai e à mãe.

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