“Ou minha alma está louca, ou não tenho alma”, autodiagnosticou-se André, parafraseando coisas de Foucault. Entre convulsões e insensibilidades diversas, o rapaz cismou que havia morrido há uma semana, mas sofria dessa pequena peleja com a alma, que se recusava em deixar seu corpo à deriva nesse mundo. O psiquiatra não riu, e foi pior. André entendeu que nos casos de morte não se deve mesmo rir à toa. Tinha no fundo do olho aquela dor, causada pela percepção sutil da luz solar. “Morte é treva, doutor. Quando fecho meus olhos e acordo só à noite, estou curado da dor, mas não da morte”. À sugestão do médico de uma internação, André considerou-a desnecessária, pois seu plano mutuário para velório, enterro e túmulo estava em dia. Fosse o caso, e o melhor mesmo seria acionar um advogado, para intimar a empresa fúnebre a cumprir aquilo que rezava o contrato.
terça-feira, 27 de março de 2012
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