Guardado em algum fundo, o choro de Monike ribombou no colo do irmão. Antes, após aquele pecado recém passado, sofrera de arrependimento, mas não havia chorado. Com a ajuda do amante, estendera Nelson entre os papéis velhos malcheirosos, plásticos atentos, pedaços de bonecas e de coisas da vida, presentes no lixão da cidade. Mais do que ocultar o cadáver quis encobrir sua história de traições, iniciada na doença do marido, há três anos. Teve que aguardar a noite para que ninguém visse o carro parando, e de dentro dele saísse aquele corpo envolto na colcha de casamento que ganhara de presente da avó. Lá, só o medo a motivava e o pavor a corroía, nenhuma lágrima. Instantâneos de lentidão e violência. O peso de Nelson, que nunca reparara. Nenhuma palavra no trajeto da volta. Mas, o encontro com o irmão mais novo, parece que lhe explodir a velha mágoa. Voltar à vida, depois da morte, pareceu-lhe muito irreal.
quarta-feira, 7 de março de 2012
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