Tinha um caso de amor no Norte. Acho até que pelo Norte. Seu tédio bufava com nosso sotaque do Sudeste. Detestava o frio eventual, amaldiçoava as comidas, denunciava os times de futebol, caluniava a vida, sonhava sempre com a suposta volta, acompanhava o andar do carteiro, emissário das notícias de lá. A cada dois ou três meses ia ao banco transferir riquezas para “a pessoa”. No dia em que foi embora nem disse tchau, depois de dias o vi de novo. Mais aborrecido, com fastio explícito e um desgosto da dimensão de um ano. A cara redonda parecia refletir todas as desgraças do globo terrestre. Furtei-lhe uma conversa amena, quem sabe para descobrir o que se passava, respondeu monossilábico. Pedi-lhe um livro emprestado, disse que não: “questão pessoal”. Pelo muro baixo ouvi umas batidas surdas num tambor, que escapavam melancólicas... nem lembravam um carimbó.
sábado, 22 de outubro de 2011
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