Do parto até o infarto pouco sabemos da vida de Hélio. Foi no leito da UTI que veio à luz sua encantadora mania de contar contos de fada. Esfregando-se aos primeiros lençóis disse da dama, que num ápice contra a bruxa, beijou o sapo sem jeito e deu-se príncipe. Meio manjada, mas suficientemente farta de empolgação para a vida. Não valiam nada os monstros, vampiros, ogros ou outros bichos imaginários capazes de retirar a generosidade de seus prazeres. Hélio era fabular. Meio Esopo, por trás dos olhos, entornados por aquela massa enorme de fartas banhas, sem que com isso fosse pegajoso ou tosco ou pedante ou lerdo. E não havia medos que lhe cortasse a fala. Simpatizei-me muito com ele, e nem seu ranger de dentes chegava a me incomodar. Pena que, sem os sedativos, mal soubesse onde estava.
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
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