
“Alô, mate. Alô, limão”, gritava o vendedor de chás, em ré maior. As ondas batiam sustenidas pelo vento cortante. A areia solfejava dodecafônica aos passos lentos de Fred, surfista e cantor de reggae, que vinha em sua direção. “Aí, belê?”, ele disse, pulando abertura, prólogo e atos dessa ópera salgada. Ela se assustou. Stravinsky. Aquele pássaro de fogo, sagração do verão, fagote enviesado e carregado de percussão não poderia subir assim, das conchas para seu coração, já em tempo rubato.
Disse um “belê” em si. Resposta em última nota àquele deus de boina mesclada, com crochês verdes, vermelhos e amarelos. “Mô, calor, né mina?”, ele balbuciou. Ela respirou fundo, olhou para a platéia e fechou o piano.
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