Mandaram apertar aos cintos e desligar o celular. Na tela de fundo do seu, Iracema tem uma fotografia que tirou com o pai e mãe na caatinga cearense; os bodes em segundo plano. Afetos que já lhe parecessem distantes. Sua tela esfumaça-se e escurece e pais e bodes parecem-lhe distantes. Como aquele copo plástico de suco de caixinha que ela viu caindo entre a mão da aeromoça e a sua, e compreendeu que já não poderia fazer mais nada. Lenta e dolorosa aquela espera de fração de segundos até que o líquido de uva lhe emporcalhasse a calça jeans novinha, especialmente comprada para ir morar nos Estados Unidos. O rito de passagem daquele silêncio do sertão, triste e medíocre, que deixava tudo ensolarado e grave, se esvai no zumbido monocórdio das turbinas. Até que pousa, para transformar-lhe o amor em mímica, que inclui afinar o nariz e engrossar os lábios para a nova vida. Por carta, enviou à mãe uma foto na qual sua roupa amarela contrasta com o cinza da Estátua da Liberdade, mas, lá no final, conta feliz que Chico Buarque lhe dedicou uma canção.
quinta-feira, 28 de abril de 2011
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