Impaciência enervada, irritação gaguejante, ira trêmula. Reinando sobre um quintal minúsculo, de uma claustrofóbica casa de fundos, cuja parca visão era a de muros sujos e sem reboco, Fernando era um pinscher humano. Até agudo na fala ele era, e magro como uma top model em ascensão. Com os vizinhos, encrespava só pelas feições. Odiava sons, por sonatas aos luares que fossem, nas casas alheias. E tinha por hábito gritar com quem lhe oferecesse uma ajuda ou um bom dia. Ermitão urbano, parecia movido às cólicas intestinais, resmungos cacarejados ou picadas de frescuras. Herdara o imóvel da mãe, falecida de bondade e simpatia. Tanto incomodou os outros, que os moleques logo trataram de colocar em seu portão seguidas plaquinhas de “vende-se esta casa”, que provocavam inadvertidos compradores. Até a chegada Helião, que se afeiçoou com o claustro. Não chegou a fechar negócio, mas que deu uma surra bem dada no mal educado, isso deu. Para o deleite da galera.
quarta-feira, 27 de abril de 2011
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