sábado, 12 de dezembro de 2009

Era um entusiasmado

Era um entusiasmado com as evoluções de sua cidade. A pequena Pau de Fora, no sertão guarani, expressava o nada à vista dos visitantes, mas para Jasmino, um dos primeiros moradores, era a metrópole dos sonhos. Fincou aos calos na mão e língua de fora a primeira cruz, no local onde profetizava a primeira igreja. Com uma velha carroça buscou os descartados paralelepípedos da cidade vizinha, para calçar a rua central de Pau de Fora. No barro e no adobe construiu o que chamava o primeiro Pronto Socorro, sob a direção de Dona Clara, benzedeira renomada.
Os anos se passaram, a população de Pau de Fora crescia à escala decimal. O amor de Jasmino pelo lugar, no entanto, era cada vez mais arrebatador. Fez uma ponte, onde não havia rio. Ergueu um morro, para instalar um Cristo Redentor. Do buraco, fez a piscina pública. Contam os últimos habitantes que Jasmino só superou suas façanhas empreendedoras na inauguração do cemitério que, segundo ele: seria composto por vários túmulos de mármore branco. Na manhã daquele dia, Jasmino se suicidou na porta da necrópole. O cadáver tinha nas mãos um bloco de flores, esculpidas em alvo mármore.

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