
Bastava um casual encontro na cozinha, na sala ou na varanda, para que a dona da casa derramasse um palavrório sem fim, que invariavelmente terminava nos preços em dólar, euros ou libras, dos vinhos que a mulher bebera, dos pratos exóticos que comera ou das passagens dos barcos que navegara. Claribel não cambiava aquilo. Para os parcos passes dos ônibus periféricos que apanhava, para chegar ao trabalho, sempre precisou implorar o dinheiro àquela patroa. Mas ouvia as falas da fartura. Fazia parte do serviço, pensava, calada.
O melhor áudio da vida Claribel deixava para as tardes de domingo, quando Dorival, mecânico honrado, seu namorado, sussurrava-lhe baixinho no ouvido: “um dia vamos nos mudar dessa cidade de loucos, minha Belzinha”.
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