quinta-feira, 10 de junho de 2010

A ordem das ondas

A ordem das ondas não altera o rumo dos peixes. Dado aos ditados, provérbios e anexins, notadamente aqueles acrescidos de seus torpes trocadilhos, Milovan, filho de Milton e Ovanilde (entendeu? Ele dizia), era a própria expressão da estupidez. Falava alto e deixava fraturas expostas até em invertebrados. Típico sem-cerimônia, freqüentava inúmeras festas, as muitas para as quais, evidentemente, não tinha sido convidado, e as raríssimas em que o anfitrião patife, a fim de causar desarranjo entre os convidados, o chamava para “comer umas coisinhas”. Foi de penetra que Milovan exacerbou a lucidez alheia. Levou uma corneta (embora nem precisasse, porque também a imitava com uma contração entre os lábios e as bochechas), e se pôs a tocá-la sempre que via uma mocinha bonita. O vazio veio do nada. Um casal aqui, uma morena ali e um grupinho acolá. Todos saíram à francesa. No saldo, Milovan e o dono da casa, o telefone tocou. Do outro lado, uma voz sussurrou maliciosa: “com bobo não se brinca”.

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