Meio muito puto chutou água no chafariz, onde havia um peixão torto de jeito, de gesso, soltando jatos pela boca. Cercado pela noite, mas iluminado por um refletor fixo, o bicho pouco se lixou à raiva de Jacinto. Recebia a tempestade com a indiferença das estátuas. Já a lógica de Jacinto fugia por algum poro. Deixou os chutes para morder draculamente o polegar dobrado da mão direita fechada, e nem era italiano, legítimo dono de gestos desses. Só sossegou quando quedou sentado na possa do chão. Fundilhos molhados são seguros remédios pra amainar ódios soltos. Aos poucos foi trocando o ridículo pela reflexão, o insano pelo conformismo. Jacinto olhou para aqueles que curiosos o viam, burlando a gravidade com a levitação dos risos. Pareceria louco, não fosse a ciência coletiva de tratar-se de um respeitável apaixonado, numa vagabunda desilusão.
quinta-feira, 15 de abril de 2010
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