sábado, 30 de janeiro de 2010

No fundo não

No fundo não disse nada, apenas sussurrou uma expressão lisonjeira. Seus lábios erguiam e baixavam como dois agressores da recente cirurgia plástica. Exercitava sua excitação de colocar deuses a serviço do mal, quando confidenciou a Mandinho que fora violada pelo patrão, o velho Dilermando, pai do rapaz.
Com a satisfação de ter capturado um gigante numa ratoeira, choramingou penúrias nasaladas. Snifs e óhs. Tão desonesta quanto a fantasia de que se pode colocar o amor profundo numa fórmula matemática, disse que pelo motivo exposto não tinha mais clima para prosseguir o noivado, entre chuva de lágrimas e um tornado de balançares de cabelos.
Compadecido, Mandinho sentiu-se um punhado de sal na ambrosia da vida. Jurou casar-se com ela, dar-lhe tudo disfarçadamente, e só depois mandar matar o pai milionário e estuprador. Ela fingiu não encontrar palavras de felicidade, então não disse nada. Fez que sim, limpando as lágrimas.

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