quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Fluir finito

Fluir finito. É pena a contra-cena petrificada na memória não durar pra sempre. Duília se sentiria melhor se o rosto de Augusto não desgrudasse mais. Nostálgica, a Duília. Deu um gritinho, por descuido. Assim, gay nível 7. Então pensou no destino que Augusto teria tomado para transforma-lhe em ainda mais distante.
Passou! Despejou cuidadosamente os quatro vidrinhos do mata-insetos nos três últimos receptáculos da forma de gelo, deu duas mexidinhas e a situou única no congelador. Pulou o prelúdio, e ouviu Dell’ invicto trascorsa è già l’ora?, primeiro ato de La Traviata. Tocava Ah Violetta!, no último ato, mas antes que a personagem se expirasse da vida, apanhou os três cubos endurecidos. Pousou-os sobre os dois dedos de Campari no copo branco, e rodou-os com o indicador.
Levava já o tal copo à boca quando o alarme disparou. Parou o copo no ar sem provar do destino. Baixou-o à mesa e levantou-se. Percorria a janela do quarto quando avistou um rato roendo os sensores. O causador do alerta. O determinante. Sujo, safado, tosco, o oposto ao rosto de Augusto.

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