sábado, 15 de maio de 2010

Estirou os braços

Estirou os braços, ergueu a tampa do piano e sapecou um arranjo piazzólico. Já há dois dias, afinal, Julieta o havia deixado, tocada em fuga pela sua intocada insensatez. Adios nonino. O lado melodramático de Nivaldo era “cool demais”, havia dito à moça seu amigo Horácio, do sexo mais ou menos oposto. Foi-se, e as notas ficaram. Fluindo do velho piano da sala numa tristeza maxicool.
- Ma che cazzo sucede qui? Entrou gritando Arthuro, amigo do casal, que logo foi à geladeira e matou um naco de pizza que lá habitava desde o primeiro tango gravado de Carlos Gardel. O pianista solitário, Clayton, era o seu nome, olhou solene ao amigo e quase em lágrimas, continuou dedilhando enquanto explicou ao ítalo-companheiro: “Ela me deixou!”. Arthuro o olhou, olhou para o alto e, como na piada insólita, sussurrou apenas: “cante um pedacinho aí, pra ver seu eu sei!”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário