sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A emanação de suspiros

A emanação de suspiros, não dessemelhantes a certas risadas, conferia ao robusto Olegário um certo ar de hiena, obesa e ofegante. Sentado próximo à janela, ao vento farto e luz difusa, media o tempo a coxinhas, consumidas aos centos. Já são dez horas: dois, quatro, seis, oito, dez, doze... quarenta oito palitinhos. Um para cada salgadinho, à média de vinte por hora, havia acordado há pouco mais de duas horas. Hora, aliás, da primeira refeição: arroz às tantas, feijão ao litro e carnes vermelhas aos quilos, de panela, para evitar muitas frituras.
Quando passou dos 150 quilos a mãe preocupou-se. Ele sorriu, satisfeito, feito um acrobata que sobe a escada para dar um salto mortal. Aos 200, a mãe desesperou-se. Ele parecia algo macio, que enrijecera devido aos pequenos aborrecimentos diários. Mudou de feição. Do vigor à morbidez, do prazer ao vício, do sabor à necessidade, já não distinguia a zombaria da seriedade, da dor ou do desprezo. Era como se o ar se adensasse, num abafamento insuportável. Quando explodiu, nem barulho ele fez. Foi como se existisse só para si próprio: metódico e silencioso.

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